Nesta entrevista, liderada pelo nosso editor Mário Fernandes, ou simplismente Mauzenen, tivemos a oportunidade de descobrir variadas informações sobre o reservado e talentoso produtor de beats angolano, Edgar Songz, que partilhou conosco, como começou a sua carreira, as suas principais influências musicais e como elas se refletem no seu trabalho. Também falamos sobre o seu processo de produção, a sua experiência de trabalho com a TRX, a sua saída do grupo, as suas expectativas e planos para o futuro e muito mais. Acompanhe a entrevista a partir do parágrafo a seguir:
PERGUNTA 1: Como começaste a tua carreira como produtor de beats?
EDGAR SONGZ: Comecei em 2010, quando estava no último ano do ensino médio. Lembro-me que na altura, eu tinha um PC com uma péssima placa gráfica, o mesmo rejeitava todos os softwares que eu instalava, e por ironia do destino o FL Studio foi o único que consegui instalar. E no ano de 2011, foi onde me apaixonei e me tornei completamente obcecado por esse mundo. Tive uma influência musical muito grande dentro do meu seio familiar, visto que, cresci ouvindo muito Hip-Hop, Reggae, R&B/Soul, Rumba, Kuduro e dentre outros estilos musicais diferenciados.
PERGUNTA 2: Quais são as suas principais influências musicais e como elas se refletem no seu trabalho?
EDGAR SONGZ: Tive uma grande variedade de influências que catalisaram e tornaram o meu estilo mais único. Cresci ouvindo R&B, Soul Music, e Hip-Hop, e posteriormente fui conhecendo mais estilos. Quando falo de influência, não falo apenas do estilo dos beats, mas também, da alma e emoção que estes beats carregam. Nomes como, Timbaland, Justice League, J Dilla, Kanye West, Pharrell, Swizz Beats, Jermaine Dupri, Drumma Boy, Zaytoven, Lex Luger, dentre outros grandes nomes, muito influenciaram no meu estilo. Um facto interessante, é que sempre fui fã de Kuduro, e este foi dos estilos pioneiros quando ingressei para este mundo, lembro-me de ouvir muito os beats do Nato P3, e sinto que de certa forma isso também influenciou bastante no meu estilo.
PERGUNTA 3: Como descreves o teu processo de produção e como ele evoluiu ao longo dos anos? E conta-nos, qual é a história por detrás do teu tag “Edgar Songz On the Track”?
EDGAR SONGZ: O meu processo de produção baseia-se muito na criatividade e simplicidade. Quando és criativo, quase tudo se encaixa sem esforço, é tudo natural. A criatividade, simplicidade, a alma, e a emoção são dos factores que complementam o meu processo de produção. E posso dizer que, foi estes factores que muito contribuíram para a minha evolução musical.
A história que está por detrás desse tag, é que é a voz da minha irmã menor (…risos).
PERGUNTA 4: Qual é a mensagem ou emoção que esperas transmitir com a tua música? Como você quer que a arte seja recebida pelo público?
EDGAR SONGZ: sempre que produzo um Beat, procuro sempre me conectar telepaticamente com quem ouve. Sempre tento fazer daquele momento, um momento nostálgico. Quero que quem ouve se lembre não só da música, como também, dos momentos que viveu quando ouviu a melodia ou Beat. É importante perceber que como humanos, somos movidos por frequências, e encontrar a frequência certa para transmitir para o público, a fim de proporcionar bons momentos, é dos meus maiores desejo.
PERGUNTA 5: Sabemos que fizeste parte da TRX Music desde o período de 2016 a 2020. O que te levou a se juntar ao grupo e como foi a experiência de trabalhar com eles?
EDGAR SONGZ: Bom, a TRX Music sempre foi um grupo coeso e com potencial, e na altura caminhávamos todos para o mesmo sentido, então, foi como juntar o útil e o agradável. Foi uma boa experiência que partilhamos durante os anos que fiz parte do grupo, e que serão lembrados eternamente não só por nós, mas como também, pelos fãs e apreciadores do grupo.
PERGUNTA 6: Houve algum motivo específico para a tua saída do grupo TRX? Pode nos contar mais sobre isso?
EDGAR SONGZ: A gestão do grupo foi dos principais motivadores para a minha saída. Chegou uma fase em que senti que as minhas ambições e objetivos divergiam com os do grupo, e isso dificultou a minha continuidade no mesmo. Basicamente, criou-se estradas com rumos diferentes e separados.
PERGUNTA 7: Podemos esperar uma colaboração com a TRX Music ou com algum membro futuramente?
EDGAR SONGZ: Infelizmente, não.
PERGUNTA 8: Porquê na TRX só o Luessy e o Eudreezy o seguem nas redes sociais e só segues eles? Existe algum motivo específico para isso?
EDGAR SONGZ: Não existe nada específico nisto, acontece que, criei um perfil novo, e poucos conhecem, uma vez que não promovo ou partilho nas minhas outras redes, então é normal seguir ou ser seguido por poucas pessoas.
PERGUNTA 9: Do projecto Prodigia-te Banda Deluxe ao album King2da e claro o Hit My Queen, tu e o Prodígio tiveram uma química incrível. Quais as razões por detrás desta química?
EDGAR SONGZ: Bom, trabalhar com o Prodígio sempre foi um sonho para mim (…risos), faz parte facilmente, do meu Top de artistas que mais aprecio. Portanto, trabalhar com ele foi bem natural, e fazer parte do álbum KING2DA, foi uma grande honra, uma experiência incrível.
PERGUNTA 10: Como foi o processo criativo da musica Pra Sempre de Prodígio com a participação de Dino D’Santiago e Jimmy P?
EDGAR SONGZ: O processo criativo dessa música foi bem natural. Lembro-me de estar com o Prodígio quando tudo começou. A principio eu já tinha feito os acordes e depois o Pro passou-me mais ideias e no final foi o resultado desejado. Nessa altura, estava a passar por uma fase bastante difícil, onde procurava de todas as formas poder conectar-me novamente ao mundo real, o típico sofrendo em silêncio. Confesso que essa música teve e sempre terá um impacto forte para mim, pois, pude perceber que a música realmente cura.
PERGUNTA 11: Qual DJ ou Produtor angolano que mais gostaste de trabalhar?
EDGAR SONGZ: Durante estes anos trabalhei com produtores e Dj´s angolanos bastante fortes, e que muito agradeço pelo aprendizado. Mas falar de um DJ com quem gostei de trabalhar, seria o Hélio Baiano, não só pela música que fizemos, mas também, pela visão ampla que ele tem, é muito diferenciado.
PERGUNTA 12: Quais foram as parcerias mais memoráveis que tiveste com outros Artistas Angolanos?
EDGAR SONGZ: Para ser sincero, foi na música Majestade. Aquilo foi um verdadeiro colapso (…risos) trabalhar com o Biura foi simplesmente incrível. Lembro de já ter o Beat com a voz do Papa Francisco bem preparado (…risos)
PERGUNTA 13: Quais são suas expectativas e planos para trabalhos futuros com artistas angolanos? Quais são suas opiniões sobre a cena musical atual em Angola?
EDGAR SONGZ: Acho que tenho muitos planos e objetivos para a arte em Angola, mas para além de contribuir para o engrandecimento musical, trazendo mais qualidade, eu gostaria de poder educar sobre diversos tópicos que não são debatidos atualmente. Quando falo sobre educação, eu falo sobre promover workshops com a finalidade de desenvolver uma verdadeira indústria musical. No entanto, mais do que ter músicas a circular no mercado é importante pensarmos em capitalizar, e veicular para diferentes tipos de públicos. Atualmente vejo o panorama musical nacional um pouco limitado, tipo, é normal seguirmos tendências, mas não é normal ficarmos presos em tendências, temos de evoluir, e não falo só de artistas, falo de promotores, produtores, Dj´s, designers, e até o próprio público, falo de tudo que envolve esse mundo.
PERGUNTA 14: Com o destaque que tu tens conquistado a nível internacional, conte-nos, qual foi o momento em que notaste que estas a ser reconhecido internacionalmente?
EDGAR SONGZ: Para além das constantes mensagens que vinha recebido por todo mundo, acho que foi quando recebi a ligação do rapper americano Spiffie Luciano ouvindo os meus beats com Boosie Badazz. Isso foi de loucos, nunca imaginei que seria possível ver os meus beats a quebrarem barreiras internacionais pela internet, e ainda mais vivendo em Angola.
PERGUNTA 15: Quais rappers ou produtores internacionais você já trabalhou e como foi essa experiência?
EDGAR SONGZ: Muitos. Mas posso destacar, trabalhei recentemente para o novo EP do rapper Tre Davinci, e no single “Hurt Now” de Monique The Star com a colaboração de Jerry Wonda. Trabalhei com artistas como Shade Jenifer, Moonlander, John Concepcion, dentre outros, e com produtores conceituados como, 30 Hertz Beats, Pdub Cookin, Yonas K, Kobe Beats, e Speaker Bangerz. Posso dizer que é uma experiência abismal, fora do normal mesmo, é daqueles momentos que não acreditas sem veres com os teus próprios olhos (…risos)
PERGUNTA 16: Recentemente colaboraste para uma música com a grande lenda Jerry Wonda Duplessis. Como é que foi trabalhar com esta lenda da musica internacional? O que sentiste quando foste contactado por ele?
EDGAR SONGZ: Confesso que lagrimei e deixei cair o telefone (…risos). Só tenho a dizer que temos sempre que acreditar em nós, não importa o que vão dizer, nem o tempo que poderá levar, é importante sermos nós mesmo e trabalhar para materializar os nossos sonhos.
Ver uma lenda de escala global ligando para ti, enquanto está numa Tour mundial do seu grupo “The Fugees” é um evento inexplicável, é incrível, é histórico. Saber que temos trabalhado juntos em diversas músicas é muito mais maravilhoso ainda. Só tenho a dizer que sinto-me grato todos os dias por isso.
PERGUNTA 17: Com o passar do tempo notamos que transitaste do físico para o virtual em questões relacionada a vendas de beats e negociação com artistas. Qual é o factor por detrás dessa mudança?
EDGAR SONGZ: Atualmente, todas as áreas têm se reinventando e transitando para o universo virtual, e não seria diferente com o music business. Portanto, quando trabalhas de forma primitiva, te tornas primitivo. E estando apenas no físico, te tornas limitado e fechado, diferente do virtual que de certeza terás uma maior expansão e maior alcance.
E parece irreal, mas quando transitei para o digital, onde tenho diferentes públicos-alvo, fiz 20 vezes mais vendendo beats online comparando com os trabalhos que fiz com artistas nacionais. Por isso, transitar para o digital é das formas mais eficientes de contribuir para longevidade do teu business.
PERGUNTA 18: Como é que tu rentabilizas com as musicas que produzes ?
EDGAR SONGZ: Primeiramente é necessário perceber que como produtor, tu tens diversas formas de rentabilizar com uma música, mas antes é necessário te educares para perceberes melhor como tudo funciona. No meu caso, tenho uma conta no Beatstars onde vendo beats e Kits online, uma conta no Youtube onde recebo pelo ads revenue, inscrito numa sociedade para receber os direitos autorais e de execução, e numa Publisher para os direitos mecânicos, de sincronização e dentre outros. Para além disso, ainda tem muito mais coisas por detrás disso, se eu escrever tudo, isso vai parecer uma bíblia (…risos)
PERGUNTA 19: Já tiveste alguma experiencia diferente negociando com artistas internacionais ?
EDGAR SONGZ: Sim. Lembro-me de um episódio em que contatei o agente do artista Lil Nas X para uma possível colaboração, sendo que, ele disponibilizou o email para mim poder submeter os meus Beats. Acontece que depois do álbum intitulado “MONTERO” ter saído, percebi que a música “SCOOP” com a participação da Doja Cat tinha alguns extratos do beat que tinha enviado e soava a plágio, mas por falta de conhecimento não consegui contatar advogados para aprofundar mais a situação, visto que o agente parou de responder as minhas mensagens. Este episódio, me fez ser mais cauteloso com as negociações, e pôr os pés em terra, perceber que nem tudo é um mar de rosas.
PERGUNTA 20: Como vês a valorização dos produtores em Angola?
EDGAR SONGZ: Esta é uma pergunta que pode ter respostas relativas, por exemplo, alguns podem sentir-se valorizados, enquanto que outros não. Mas na minha visão, claro que não existe valorização de produtores em Angola, estamos muito distante disso, infelizmente.
PERGUNTA 21: Como você lida com a competição na indústria da música e como se esforça para se destacar?
EDGAR SONGZ: Todos os dias nascem novos produtores e artistas, todos os dias tem sempre algo novo. No entanto, é importante não ficar preso numa caixa, deixar a criatividade se expandir e fluir, ouvir todos os estilos musicais sem julgamentos, ser mente aberta. Competição sempre vai existir, e por vezes chega a ser saudável, mas é importante, não nos prendermos em competir, mas sim, em deixar a nossa marca, e marcar pessoas e momentos, este deve ser sempre o objetivo final.
PERGUNTA 22: Passaste por momentos difíceis de perdas no teu seio familiar. Como lidas com isso?
EDGAR SONGZ: Pra te ser sincero é impossível superar. Perdi primeiro a minha Mãe e depois o meu irmão caçula, confesso que é uma dor na alma, e toda dor na alma é crónica, não passa, parece que estas a escalar o Everest, quanto mais escalas, mais difícil se torna. Transformar a minha dor em arte tem me motivado todos os dias, e tenho isso como um dos meus mantras. Mas é importante acima de tudo encontrares um propósito, um sonho, uma razão, é isso que vai te servir como bússola para nunca te perderes, e claro deixa Deus no controle de tudo, e verás que o resto será apenas resto.
PERGUNTA 23: Em poucas palavras, deixa uma mensagem para um artista sonhador, qual será?!
EDGAR SONGZ: Nunca desista de ti, nem dos teus sonhos.
Foi inspirador entrevistar o Edgar Songz e saber mais sobre a sua jornada como produtor. A sua paixão pela música e a sua determinação em criar um som único, são evidentes em todas as suas respostas. A sua colaboração com artistas nacionais e internacionais e o seu posicionamento nas plataformas digitais são testemunhos do seu talento e visão. À medida que avança a sua carreira, Edgar Songz continua a enfrentar novos desafios e a se destacar na indústria da música. Com a sua mensagem de nunca desistir e seguir em frente, ele é um exemplo inspirador para artistas sonhadores em todo o mundo. Estamos ansiosos para ver o que o futuro reserva para ele e a sua música, desejamos sucessos mano Edgar.