Entrevista com Elzo Sénior

O GRANDAMAMBO entrevistou Elzo Sénior, um produtor musical angolano que tem investindo pesado para conquistar o reconhecimento que merece no mercado.

1. Quem é Elzo Sénior?

Elzo Sénior, é um produtor e compositor há 14 anos, residente na província do Namibe, produtor musical da Swahili e Fantastico Ent. e fundador do colectivo de produtores denominado Produtores Bantu.

2. Como, quando e porquê te tornaste um produtor musical?

Tudo começou em 2008 quando fazia o estilo Kuduro, na necessidade de cantar em instrumentais autênticos decidi aprender a produzir e falei com um amigo para ensinar-me, mas a medida em que eu me dedicava nos instrumentais me afastava do drop.

Por anos fui me aperfeiçoando nos beats, em 2010 estreava o meu primeiro instrumental cantado e em 2013 decidi retomar como Rapper e em 2018 acabei por deixar novamente o drop de lado, na necessidade de reinventar a minha carreira fazendo músicas interpretadas por outros artistas.

3. Sabemos que já produziste muitas músicas, mas cá entre nós, quais você consideras especiais ou as tuas favoritas?

  • Existe várias músicas já lançadas com a minha produção e muitas delas são classificadas favoritas pela primeiro pelo meu processo criativo depois delas composição e desenho músico.
    Em termos de criatividade, farei um top 10 das minhas produções favoritas:Ready Neutro – Poderosa Part. Dinamite Prod. c/ Silindro – Álbum Poeira No Alto Mar.
  • Elzo Sénior x Joyce Hiperativo – Senhor Polícia – Álbum Até à Próxima.
  • Elzo Sénior x Joyce Hiperativo – Até à Próxima Pt.1/Pt.2 – Álbum Até à Próxima.
  • Damani Van Dunem – Esperança Nunca Morre Part. Hot Blaze – Álbum Blu-Ray: Qui Pro Quo.
  • Damani Van Dunem x Elzo Sénior – 4.0 – Álbum Swahililândia, Acto1.
  • Joyce Hiperativo – Billie jean.
  • Fantastico – Delúvio Do Mangope Pasrt. Joyce Hiperativo.
  • Shinobi Vision – Fala Tu Mc Part. Arsénio/The Key x Pampy 2 x Perenal x Bondjovi x Hermura.
  • Hermura – Intro (Gelo) – Álbum 30&4.

4. Ouvimos a música “Glorioso”, por acaso está muito boa, parabéns, fale-nos como foi o processo de composição e gravação até chegarmos ao resultado final?

Obrigado. Tudo começou em 2018 quando preparávamos o Álbum da Swahili – Swahililandia, Acto 1. Havia criado um instrumental, uma harmonia cinematográfica meio orquestra com drums de Trap. Quando mostrei ao Damani ele curti da cena e decidimos introduzir o beat no Álbum.

Damani sugeriu alguns artistas para fazerem parte da mesma, então selecionamos, Teknik de Moçambique, Leonardo Freezy, CFKappa e o próprio Damani representando a Swahili.

“A faixa GLORIOSO, apesar do processo criativo ter sido feito muito antes do lançamento, ela não fez parte do álbum para darmos uma atenção espacial. As gravações foram feitas em lugares diferentes, a parte do Damani foi captada na DT Produções, Leonardo Freezy e CFKappa gravaram na Cérebro Record e o Teknik gravou em Moçambique em seu próprio estúdio.”

Depois desse processo todo estar pronto enviamos todo material ao Ellputo, que ficou a cargo da mistura e da masterização.

5. Fale-nos do teu processo de criativo e o que não falta nos teus instrumentais?

O meu processo criativo é uma coisa que as vezes nem eu entendo, dificilmente decoro o que uso, sou muito paciente e detalhista.

Não guardo ideia para outro beat, tudo é aplicado no que estiver a ser executado, caso não fique bom retirasse.

Normalmente começo sempre criando melodias em seguida posso pegar na percussão, daí poder surgir qualquer ideia. Como ou quando vou terminar isso não se sabe porque um instrumental nunca está acabado.

Nem sempre tem, mais 808 é um dos instrumentos/sons que me caracteriza e quase está patente em todos os meus instrumentais. Se eu começar a produzir Semba vou introduzir o 808 (Zueira).

6. Quais são os softwares que usas para produzir? Por quê?

O FL Studio é o software que uso desde o começo até hoje. Não só por achar que é o melhor, mais por não haver muitas alternativas na época em que comecei.

Na altura não sabia a existência de outros DAW’s além do Adobe Audition e ele era mais usado para captação tal como nos dias de hoje, havia poucos recursos investigativos ao meu alcance.

E nos dias de hoje só faço apenas comparações e vejo os que outros DAW’s estão trazendo de novidades, eu não concordo que a qualidade esteja no DAW, mais é o tipo de material e como usas, porque alguns produtores fazem coisas boas com poucos recursos.

7. Pertences a alguma produtora musical / Grupo? Qual?

Sim, faço parte da Label Swahil/Swahililândia.

8. Tem um artista especifico que gostarias de um dia produzir? Por quê?

Um específico, não. Tenho uma lista onde constam vários artistas, farei um top 5 dessa lista, que são: Hernâni Da Silva, Toy Toy T-Rex, Anna Joyce, Jimmy P e Altifridi.

9. Há um velho ditado que diz “que devemos aprender com os erros dos outros”. Quais foram os principais erros que cometeste no princípio?

O principal erro que cometi é de ficar calado. Já recebi experiência de pessoas que têm o meu respeito até hoje, mais muitas dessas pessoas ensinaram-me a ficar calado principalmente quando não era necessário e isso dificultou no meu aprendizado.

As vezes eu tinha receio de perguntar ou tirar as minhas dúvidas, por uma vez ser mal interpretado, perguntei por algo e disseram para eu ficar calado e ser mais humilde e levei isso por muito tempo tem dias que isso ainda me afecta até fora da produção. Eu sou uma pessoa muito a vontade e as vezes muito quieta em função disso principalmente em ambientes novos.

Eu sempre achei e até hoje acho que estou fazendo grandes coisas algumas dessas coisas foram notadas anos depois por artistas e ouvintes, mais pelo facto dos eventos anteriores eu ainda fico muito quieto, as vezes ainda acho que as pessoas vão confundir os meus jeito e a minha vontade e conversa falta de humildade.

10. O que que achas que está a faltar dentro do mercado musical em Angola?

A descentralização e organização da cultura e das instituições direitos autorais.

“Existem muitos e bons fazedores de arte em Angola, mas ainda temos que ir PARA Luanda para sermos conhecidos e ouvidos, E NOS REGISTARMOS nas instituições de Direitos AUTORAIS.”

Parte desses erros começam pelas rádios locais em divulgar mais conteúdo internacional e quando é nacional quase que os músicos da banda não passam, isso na província em que vivo. Existem condições para abrir em cada província ou região, uma sede ou representante desses órgãos para não haver necessidade de ir para capital registar as nossas obras.

Muitos artistas têm as suas músicas viralizadas, visualizadas, tocadas e ainda assim ele não consegue desfrutar do sucesso. Eu penso que as vezes não precisassem muito mais o reconhecimento e o valor devido. Fama é bom, ser pago pelo seu trabalho é gratificante e combustível para continuar na estrada.

11. Tens acompanhado a música noutros países dos Palops?? Tem algum artista ou produtor que um dia gostarias de colaborar?

Acompanho sim, além de artistas citados a acima gostaria de trabalhar com produtores com Sam The Kid, Dj Caique, Ell Puto, Valdo Prods entre outros.

12. Qual é o teu auge de carreira?

Quando eu estiver a viver da música, eu não quero me preocupar em acordar às 5h e ter que voltar em casa no final do dia e atender outras preocupações e só assim ter que fazer a minha música. Foi assim que muitos se acomodaram e mataram o talento dentro deles. Faço esforço de manter-me firme no que acredito.

Até hoje tenho certeza absoluta que é isso que eu quero fazer e isso é um sonho, trabalho duro, dentro e fora da música para poder realizar o meu sonho de viver da música e gerar outros empreendimentos através dela.

13. Como é a vida do Elzo Sénior quando não está a produzir?

Quando não estou produzir, estou com a minha família e/ou amigos, talvez naquele momento estamos falando de música ou apenas só se divertindo ou mesmo eu esteja estudando e pesquisando técnicas para aperfeiçoar o meu som e uma das coisas que faço muito.

14. O que que podemos esperar do Elzo Sénior ainda neste ano 2022?

Lancei recentemente um EP colaborativo com Joyce Hiperativo – Até à Próxima, o que vem a seguir ainda continua surpresa, o que posso adiantar é que a Swahili está a trabalhar em algo grande pra meus ouvintes e não só.