Nesta entrevista exclusiva conduzida mais uma vez pelo Mauzenen para o GRANDAMAMBO, mergulhamos no mundo vibrante e revolucionário da música moçambicana com o talentoso Rapper, cantor, beatmaker e idealista musical, Eduardo Horácio Mavila, de nome artístico Rober Mavila, que deu início sua carreira musical em 2017.

Rober Mavila partilha prespectivas sobre a sua jornada musical, revelações sobre o seu grupo AOPDH e o fenômeno do Trap Matchansi, enquanto nos leva por trás dos bastidores da sua inspiração e do seu grupo que tem trabalhado arduamente para conseguir alcançar os seus objectivos.

PERGUNTA 1: Como o Rober Mavila entrou para o mundo da música como Rapper e produtor e quais foram as tuas inspirações?!

ROBER MAVILA: Comecei a minha carreira musical acidentalmente ( por meio de um convite de RongMan). Ele convidou-me para fazer parte do grupo dele simplesmente como figurante mas depois um tempo vi me a fazer versos e a entrar em estúdio. Quanto a produção, fui influenciado pela dificuldade de autenticidade no que senti nas produções do grupo pois éramos exigidos a usar as instrumentais disponibilizadas no YouTube e outros sites. Inspirações: Mc Roger, Zena Bacar, Xidiminguana, Laylizzy, Ziqo, etc.

PERGUNTA 2: Em que ano foi fundado a AOPDH e qual é a vossa maior ambição como grupo?!

ROBER MAVILA: AOPDH ( A OUTRA PARTE DA HISTÓRIA ) Foi fundada em 2015. A nossa maior ambição é mudar vidas.

PERGUNTA 3: Porquê “A Outra Parte da História”?!

ROBER MAVILA: Porque sentimos que existe uma parte da moeda que ainda não foi contada. E é essa narrativa que a cada dia lutamos para contar.

PERGUNTA 4: Interessante, quais desafios vocês enfrentaram durante este processo?!

ROBER MAVILA: O único desafio é a ausência de um mercado musical que possa proporcionar uma estrutura estreita para a possibilidade de mostrar o que realmente é AOPDH. Contudo vemos isso como oportunidade de dar nosso contributo para criação dessa janela pois afinal o que somos? A Outra Parte da História, portanto é exactamente isso que seremos no meio a essas dificuldades.

PERGUNTA 5: Quais são os membros que constituem o grupo e como tem sido a vossa experiência?!

ROBER MAVILA: O grupo é representado directamente por mais de 5 membros, nomeadamente: Phiskwa, Rober Mavila, Dercy, Wamundotho, Tysow Alfa e Dhallas Matsinhe. Para nós música é uma actividade de paixão por isso a experiência de todos os dias acordar para viver por ela e dela viver é sem dúvidas a melhor coisa que um ser humano pode ter como experiência nesta vida.

PERGUNTA 6: Como descreves o “Trap Matchansi” e qual é o posicionamento da AOPDH dentro dele?!

ROBER MAVILA: Trap matchansi é a expressão da nossa musicalidade moçambicana em ritmo africanos sob uma influência da música eletrónica. Como grupo sempre achamos que Ritmos como pandza e marrabenta podiam ter sofrido essa influência da música eletrónica contemporânea.
A ideia é desenvolver uma música onde seja possível conseguimos dançar, aprender e relembrar nossa história.

PERGUNTA 7: Vocês são os criadores do Trap Matchansi?!

ROBER MAVILA: Sim. Foi uma criação de base, que envolveu noites longas no estúdio com intenção de criar algo que podesse nos caracterizar como africanos e especialmente como Moçambicanos. Contudo, importa deixar claro que nos só fomos uma ponte para concretização de algo divino por isso ninguém deve se sentir excluído de penetrar nesta nova viagem “não tenham medo, isto é tudo nosso”.

PERGUNTA 8: Além da AOPDH, tem mais algum fazedor de Trap Matchansi em Moz?!

ROBER MAVILA: Existem até o momento os nossos colaboradores. É uma onda ainda nova pode ser por isso que ainda não abraçaram também na tentativa de compreender como realmente é feito. O projecto que se avizinha vai ser um bom tutorial.

PERGUNTA 9: “Xindondi”, é a musica que vos fez viralizar, como foi a criação da música e como ficaram em saber que já chegou em Angola e foi descrita pelo nosso portal?!

ROBER MAVILA: Xindondi é uma música feita sem intenção de viralizar, mas com uma intenção de advertir e lembrar que nossos problemas podem ser resolvidos sem luta mas com conversa.
O portal grandmambo é um exemplo de união entre africanos, desde o início sempre viu valor em unir criadores de Moçambique com os de Angola .
Pra nos é sempre uma hora ver nosso trabalho abraçado por plataforma que dão importância ao trabalho dos artistas e conspirando sempre para a união das comunidades.

PERGUNTA 10: Somos gratos pelo reconhecimento. Entre os fazedores de Trap, moçambicanos e internacionais, têm apreciado alguns fazedores de Angola, Brasil e outros países de Língua Oficial portuguesa?!

ROBER MAVILA: Tomamos a nota importante que o Mano Aza nos deixou ” para dominar o mundo devemos nos trancar”. Não falava o Mano Aza de nos trancar a nível interno mas como continente porém, fomos mais profundos decidimos nos trancar a nível local, por isso, a nível de trap em Moçambique temos apreço por todos OG’s e a todos novos emergentes na cena. Na posição em que estamos não nos é benéfico citar nomes mas o apreço é maior.

PERGUNTA 11: Quais são os temas ou mensagens que vocês gostam de abordar nas suas músicas?!

ROBER MAVILA: Somos apaixonados por temas que impactam a nossa sociedade, nós somos do bairro, dos becos, do esgoto, de todo lugar que o povo lutador se encontra por isso, tudo quanto lhes impacta nos impacta, entretanto abordados assuntos ligados a dor da pobreza e a esperança de vencer com alegria, dança e vivacidade.

PERGUNTA 12: Como vocês lidam com a concorrência em Moçambique e se destacam no cenário musical emergente?!

ROBER MAVILA: A concorrência é criada pelo negócio mas na realidade todos estão a tentar realizar um sonho ou construir algo, achamos que quanto mais artistas poderem trazer esse calor o próprio mercado cresce. A concorrência para nós é positiva e deve ser saudável.

PERGUNTA 13: Quais são os planos futuros do grupo, tanto em termos de música quanto de expansão ou projetos?!

ROBER MAVILA: O plano geral e continuar a estudar melhores formas de entregar a música, a nível criativo e estratégico. O nosso grande projecto é criar conexões com artistas e outros agentes em prol do crescimento do consumo da música nacional e Áfricana.

PERGUNTA 14: Uma vez que vocês cantam usando língua local, como olham para a vossa internacionalização?!

ROBER MAVILA: Achamos que quanto mais locais formos mais internacionais seremos. Desde que as músicas representem nossa realidade pontes surgem e esperamos chegar lá.

PERGUNTA 15: Pretendem lançar algum projeto neste ano?!

ROBER MAVILA: Sim. Estamos todos os dias em estúdio, na verdade o projecto já existe mas comforme disse acima, pretendemos trazer uma dinâmica inovadora de apresentação das obras para que onde elas cheguem não sejam descartados.

PERGUNTA 16: Como vocês veem o papel da música na preservação da cultura e das tradições moçambicanas?

ROBER MAVILA: Sabe-se que a música é umas das grandes expressões artísticas do mundo pois além de ser uma expressão que engloba várias línguas também carrega várias histórias. Por conta disso pensamos que a música tem um papel extremamente importante pois através dela exploramos e reiteramos os nossos modo vivendo tanto para as actuais gerações como as vindouras.

PERGUNTA 17: Quais são as diferenças entre cantar em línguas locais e em outros idiomas, em termos de expressão e conexão com o público?

ROBER MAVILA: A língua diz muitos sobre um povo. Moçambique é um pais multilingue portanto a língua que exploramos constitui uma das faladas.
Para nos Cantar em língua local nos trouxe o privilégio de realmente abordar os temas locais da maneira mais simples e realística possível, o que em outras línguas nos era difícil. A compreensão actualmente é genuína, as pessoas que ouvem e entendem querem mais e as que não entendem vibram e tem ganhado interesse em aprender.

PERGUNTA 18: Como vocês enxergam o futuro da música em línguas locais em Moçambique e além?!

ROBER MAVILA: Agora é a vez da África ditar as regras na música. Nós não somos portugueses, ingleses, etc. Somos Moçambicanos, Angolanos, Brasileiros, Sul Africanos e todas nossas colonizadas. Quero esclarecer que, cantar em língua local é se aceitar quanto um ser que tem e pertence um lar. Em Moçambique particularmente enxergarmos no futuro uma nova onda de consciência, artistas voltando as raizes.

PERGUNTA 19: Têm recebido críticas por fazerem um Trap diferencial com língua local?!

ROBER MAVILA: Sem dúvidas. E é normal, hoje ainda é cedo para alinharem mas vamos nos abraçar. É só uma questão de educação. Eles ouvem músicas cantadas em Inglês sem entender e recorrem ao tradutor nunca reclamam mas ai quando somos nós criam barulho. O problema não língua é uma questão de aceitam, negam se aceitar.

PERGUNTA 20: Têm pensado em futuros shows e apresentações cá em Angola?!

ROBER MAVILA: Claramente. Angola é nossa casa, somos irmãos, nós e Angola merecemos dançar juntos o Trap Matchansi. Savimbe nos quer aí, Azagaia nos quer aí e todos heróis querem essa unificação dos povos e música é o gatilho ideal.

PERGUNTA 21: Hahaha, embora tenha a cena dos memes sobre os americanos, sentes um bom laço entre Angola e Moçambique?!

ROBER MAVILA: Moçambique é Angola e Angola é Moçambique. Sofremos dos mesmos problemas. Com 100 meticais não faço nenhuma refeição digna aqui em Moçambique e ai em Angola com 1000 Kwanzas idem. Não temos estradas dignas, ai também. Falta do básico, fomos explorados pelos Tugas, temos riquezas naturais mas não nos beneficiam em nada só são guerras. Irmão Moçambique é Angola e Angola é Moçambique.

PERGUNTA 22: Chegamos no fim da nossa entrevista, antes de terminarmos, faça um convite ao público angolano que ainda não chegou a mergulhar na vibe da gang AOPDH.

ROBER MAVILA: Meus Camónes/ meus wis. A Outra Parte da História é a face da moeda que eles vêem escondendo a anos, vêem ocultando porque sabem que é a revolução, é a narrativa dos sonhores que do nada podem fazer diferença. Vamos gritar juntos. O PLANO NÃO MUDA ATÉ QUE O RAP MUDE VIDAS. Hilesvu Wasvituwa (É isso mesmo, estás ouvir nem)

Nesta conversa com o artista vindo de Moçambique, Rober Mavila que é co-fundador do grupo, revela não apenas o pulsante ritmo da cena musical moçambicana, mas também a poderosa mensagem de união, esperança e autenticidade que impulsiona a AOPDH. Com uma visão clara para o futuro, o grupo está determinado a deixar uma marca indelével na indústria musical, celebrando a riqueza da cultura moçambicana enquanto inspira e conecta audiências em todo o continente africano. Prepare-se para se emocionar e refletir com a sonoridade da A Outra Parte da História – uma experiência musical que transcende fronteiras e ressoa com o coração de quem ouve.